sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Esse dispensa comentários e apresentações:

O Sono das Águas

Guimarães Rosa

Há uma hora certa, no meio da noite,
uma hora morta, em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir…
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha nas placas da folhagem e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes…
Mas nem todas dormem, nessa hora de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono…
E seguem os estudos com suas ótimas surpresas: Martins Fontes.


Martins Fontes

Ser Paulista

Ser paulista é ser grande no passado
E inda maior glórias do presente!
É ser a imagem do Brasil sonhado,
E, ao mesmo tempo, do Brasil nascente.

Ser paulista é morrer sacrificado
Por nossa terra e pela nossa gente!
É ter dó das fraquezas do soldado
Tendo horror à filáucia* do tenente

Ser paulista! é rezar pelo Evangelho
De Rui Barbosa – o sacrossanto velho
Civilista imortal de nossa fé.

Ser paulistal em brasão e pergaminho
É ser traído e pelejar sozinho,
É ser vencido, mas cair de pé!

* Amor-próprio, bazófia, impostura, jactância